quinta-feira, 1 de abril de 2010

Nesse finalzinho de Março, sai de Paris pela primeira vez.
Depois de tantos anos, o revi. Ou, o vi. Os tempos reescrevem pessoas.
Tenho vontade de passar meu dedos sobre o seu rosto, pra retribuir a gentileza e quebrar o frio que vejo por ali. A guinness parece café. Dublin abriu um sol, foram momentos muito lentos e outro rapidos demais. O aviao da madrugada me levou pra Londres. Nao sei se sempre chuvosa, mas sim, como a conheci. Estive angustiada por aqueles dias, meus pés doeram mais do que esperei, mas que fotografias aquelas de Irving Penn , e a fabrica dos meus sonhos amontoados, Tate, a tesoura de Louise Bourgeois, a sala pesada de Beuys, um portugues Juliao reescrevendo sombras de Bataille e Joyce. Me deixem sozinha por um tempo aqui; Respirando o silencio como nunca fiz antes. Voltei muito rapido, perdi o horario, o pique, a explicaçao.
Me senti voltando mesmo pra casa, com o corpo desmontado no trem iluminado de mais um novo caminho de Paris. Meu quarto demorou pra esquentar. Pareceram decadas. Tudo parece muito. Eu escrevi muitos muitos. Uma musica se escolheu sozinha, de volta a rotina, o primeiro de abril poderia ter sido pegadinha. Parece que era pra dar errado. So fechei os olhos com pesar. O amor de mae dela, liquido liquido liquido, perdeu o alvo. Sinto falta dos meus portos seguros, mas se eu nao for tentar ser maior, de que vale ser uma? Minha pronuncia arranhou as cordas, mas bebemos um copo de vinho na aula. Consegui terminar o dia bem, parece.


Estou ha 68 dias em Paris.