quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Todo muito cuidado para não te pensar alto demais, porque vai que descobrem que meu projeto, a casa, o corpo, tudo ficou descompassado?

domingo, 25 de dezembro de 2011

Acabamos adiando a lista de coisas inusitadas, e dedicamos o nosso tempo ao olhar estagnado no outro e ao uso da linguagem imaginária. Tive mais sonhos em flash do que todos os meses anteriores; eu contava entusiasmada, ele ouvia atento. Nas reflexões do final do ano, te explico pra mim: a doçura em dezembro.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Ontem eu disse pra ele que estava fazendo uma lista de coisas que poderíamos fazer juntos. Coisas inusitadas, eu disse. Como por exemplo, ver corujas a noite no cemitério ou subir bem alto em um prédio para conhecer um novo arranha-céu. Mas é só uma lista-diversão, eu disse. Porque me dei conta que tenho medo da metrópole a noite, e mais ainda, tenho medo de altura.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O bonito é que sua mão, a síntese do sonho, me trouxe uma possibilidade que não experimento há anos. E depois da mão, todas as existências escritas.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Quatro. Depois que anoitecia, eu não atravessava para o lado escuro da piscina. Achava que do ralo, sairiam camarões gigantes e assassinos.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Três. Algumas vezes na infância, cortei minha franja escondida de minha mãe. Os restos de cabelo, escondi debaixo do sofá da sala de televisão.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Dois. Aos dez anos, eu resolvi que queria ser arquiteta. Passava muitas horas brincando de fazer plantas baixas do meu quarto dos sonhos (na casa dos sonhos).
Nele, eu teria um tobogã que sairia da parede que dava para os fundos da casa, e me levaria diretamente até a piscina.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Cinco considerações sobre a casa afetiva

Um. Em quase todo sonho que faço, minha única casa, a que aparece, é a casa antiga (casa dos sonhos). Geminada, com longos espaços e uma outra casinha, no mesmo terreno.
Tinha uma árvore na porta dessa minha casa. Eu subia nos galhos todos os dias.
Um dia, as raízes acho que muito longas, causaram infiltração.
O vizinho que era médico mandou arrancar.
Colocaram uma nova, sem graça, no lugar.
Pelo menos o tronco dela era magenta.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Tinha esse homem parado na minha frente no metrô. Ele era neutro. Não me olhou nos olhos nenhuma vez. Mas na curta viagem que fiz naquele dia agradável, pensei nas diversas pessoas conhecidas que poderiam ser ele, e aquelas pessoas semi-conhecidas com que cruzei durante meses no metrô de Paris. Eu achava que andar de metrô era algo cosmopolita, e isso me atraía bastante. No entanto, depois daqueles muitos meses, comecei a me incomodar com os cheiros misturados e a sensação de não ver o mundo por cima, mas sim, sempre por baixo.
Voltando ao homem neutro, eu imaginei como seria se ele levantasse o rosto e identificasse que eu o conhecia, e começasse a dizer que ele agora vivia no Rio de Janeiro, e listasse seus lugares cotidianos e nós passássemos a ter um espaço comum e enfim, muitas possibilidades de encontros futuros.
Boa parte dos meus dias é dedicada a tentar resolver essa impossibilidade de presenças múltiplas, teletransporte, otimização de tempo comum, etc. Tento resolver as pessoas que não habitam os mesmos lugares, e de repente nunca habitarão, e por isso, eu não consigo ter o direito de criar qualquer tipo de fantasia, porque só quero me alimentar delas quando sei que existe uma mínima possibilidade de realidade.
Esse homem neutro me irritou, porque ele criou em mim uma desordem rápida de desejos de encontros, e logo em seguida, me reatou ao momento real. Não sou nenhum desses que você imaginou, e continuarei aqui olhando para algo que me intriga ou só vendo a velocidade diminuindo e aumentando, enquanto pessoas saem e entram, as temperaturas mudam e você continua procurando solução para coisas que não estão, mas simplesmente, são. assim. ponto.

sábado, 15 de outubro de 2011

Chega! Vou fazer um tratamento espiritual pesado, dar um chega pra lá nesse trabalho forte, para poder encará-lo de frente e interrogá-lo com as devidas perguntas.
Meu problema é com o amor, não com os homens.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Quando me irrito, acho que me corpo se torna vulnerável e um espirito odioso deve penetrá-lo. Não me reconheço e isso me causa medo. Mais um medo.

domingo, 2 de outubro de 2011

Me descasquei para o homeopata. Fui treinando mentalmente meu discurso no carro enquanto constatava como as coisas pareciam tão erradas naquele dia em que resolvi reuni-las em uma reclamação. Porque parece que as vezes espero por uma salvação vinda dele ou das substâncias que devem ou podem faltar em mim. Espero como espero tudo, em formato de grande evento, todo calculado e obviamente decepcionado.
Quando comecei a cuspir tudo o que eu achava errado, e isso era realmente tudo que consistia a minha vida atual dentro daquela reflexão, me senti como uma boa atriz com o texto decorado, impressionando a platéia: eu mesma.
O que acontece de mais interessante, é a nossa capacidade de simplesmente não acreditar em absolutamente nada em alguns dias que acordam, e todas as coisas anteriores terem cor esmaecida e por isso, também nada, nenhuma capacidade de refrescar a existência das possibilidades. As vidas externas não eliminam a dúvida e pensar nelas também não seria o provável interesse momentâneo. A energia é posta no não acreditar.
Mas de repente acordei suando, o sábado foi doce, as pessoas gentis, e me aconteceu de acreditar.

domingo, 18 de setembro de 2011

Minha avó me disse uma coisa bem engraçada hoje, mas já não me lembro o que é.
Então decidi só relatar que percebi que com os passar dos anos, meu avô foi ficando mais molinho, mais fraco, mais lento, e por isso seu abraço ficou mais macio.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Hoje, vestindo um sueter alemão, Dona Josefa disse que com a minha idade, ela subia até em árvore.

domingo, 4 de setembro de 2011

Tenho certeza que me enganei até aqui. Reconheço sim, que sinto um amor que é silencioso, passivo e naturalmente confortável. Um amor bonito, mas parado no próprio tempo em que se construiu. A cada vez, depois de largos intervalos, voltamos a mesma espera onde eu só continuo desejando dizer, mas não dizendo. É tudo simples, nesse amor que não parece avançar. Não me lembro dele, porque nunca o esqueço. Se estabeleceu como amor extenso porquanto imóvel, nas brechas que se permitem sozinhas, essas que de vez em quando acontecem em mim. é isso, amor.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Depois da Dona Josefa e os benefícios da dança:

Ontem meus avós fizeram 60 anos de casados. Ele, sentadinho no sofá, fez um discurso sério típico de advogado, para entregar a ela o presente que minha mãe havia comprado. Ele se movimenta com dificuldades. Ela já não enxerga quase nada, mas se orgulha e diz toda prosa, que só com muito amor e muita dança a vida toda, é que se dura no tempo.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Dona Josefa, minha companheira de pilates, tem 70 e tantos anos e diz que adora morar sozinha porque dança tango a tarde toda.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

A pior constatação que pude fazer nos últimos tempos, é que meu excesso de vontade de amar não conseguiu nunca evitar minha displicência em relação às pessoas importantes. Porém, essas eram até agora, da família e sempre pensei que bem ou mal, família tem um laço tão forte, que magoa mas passa por cima. E amizades talvez não. Estou agora recebendo pequenos tapas na cara, que mereço por certo, pela ausência e desafeto naturais que foram se impondo sobre a minha vida, e eu simplesmente não me movi para evitá-los. E houve brecha de tempo para resolver, eu que não fui, e não sei explicar porque.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Que angústia é o tempo passando naquele estreito da ampulheta, no mínimo da vida unhas cabelo marcas da pele traços dos minutos e a gente nem notando, só (re)lutando para que tudo caiba nele. Quanta estreiteza.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

saberia fazer alguns versos se me dessem frases prontas, e ai sim minha voz nao teria falhas, grafaria em vermelho suas respostas de entrelinha e as colocaria como a obra central da exposiçao do ano: só elas no meio do meu museu favorito.
Ali embaixo dele, corre um vento que entorta guarda-chuvas, mas por aqui nao chove muito e existe abrigo, se.

domingo, 14 de agosto de 2011

Na sequência de filmes que assisti nos últimos 5 dias: primeiro, fiquei angustiada (um terror muito silencioso, como me pareceu a definição de angústia naquele momento).
Não sei se foi a distância da tela ou a refeição daquela noite, mas tive uma vontade imensa de sair correndo e vomitar. A prova concreta do meu antigo medo do fim do mundo. No outro dia, tive um deleite com a beleza que respira em todos as partículas de vida. Não tive mais tanto medo do fim, porque o enquanto me deixou ocupada. Por último, o filme de ficção científica mais improvável dos (meus) últimos tempos.
Enfim, a difícil satisfação serena do limite da vida ou ao menos, uma triste conformação.
Acho que agora acredito mais no tempo que me foi dado, e menos no que temia.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Na véspera da viagem, recebi uma mensagem alegre dizendo que Elisa nasceu.
Bonito como o nome, é saber que existe um corpo novo que tem cada viga, cada curva, passos, vozes e infinitas escrituras de mundo para descobrir.
Infinito, começa o mundo para ela. E este vai perdendo sua substância conforme soma mais um dia, menos uma dose nova. Acreditar nas possíveis qualidades, será extenso.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Saber que somos espíritos e que reencarnamos em outras vidas, nunca me privou do medo da morte. Porque com ela, as relações são finitas, as memórias se apagam e eu volto a este plano sem nunca saber de tudo o que vivi. Meu medo é do esquecimento de tudo o que me habitou, de chegar a mais longa distância, esta, onde tudo se perde para ser outro.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Eu e a professora de Pilates temos uma coisa em comum:
colecionávamos recortes de revista e posters do Leonardo di Caprio quando mais novas.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Quando abri o jornal naquele dia, tive a impressão que esse poema seria como um desses filmes longos que com tanto espaço, vamos pra longe, voltamos e ele ainda acontece. Mas o poema me surpreendeu, e agora, desde o seu início, felicito-o.


O tempo que faz, Claude Roy (trad.Claudia Pessoa)

É infinitamente possível para não ousar dizer certo
(nossa única razão é a de não tê-la)
que essa manhã de inverno de onze de Abril de mil novecentos
e setenta e oito no calendário do papa Gregório XIII
(feito para recuperar os dez dias de atraso do tempo ocidental
acumulado pelo tempo solar desde o Imperador Juliano)
é infinitamente possível que a claridade de inverno desta manhã
o sol claro e frio de uma primavera gelada
a erva gélida coberta de geada e os tordos
a debicar pelo prado as últimas maçãs esquecidas
e a gata sinuosa com sua veste cinza malhada a caminhar
pelo muro com doçura e os gritos das crianças
a brincar pelo caminho e posto ao lado da xícara de café
o jornal de ontem à noite que discursa em duas colunas
sobre o próximo aumento do preço do petróleo
e o rastro a céu aberto de um invisível avião
que ergue na vertical uma enfiadura de longo fio branco
e o grande despertador de ferro a soar na cozinha
e todo o etcetera de uma manhã comum
- é infinitamente possível que tudo isso e você e eu
já acontecera acontece acontecerá de novo
acontecera acontecerá numa manhã quase igual
inverno quase idêntico quase tão frio a um grau de proximidade
num Abril muito parecido com o de agora
com a mesma geada e os mesmos cristais de gelo
o mesmo verde da erva com a diferença mínima
de alguma partículas apenas a mais ou a menos
com os mesmo tordos de ventres avantajados a debicar as mesmas maçãs
podres a mesma gata cinza e pouco importa
se as malhas não são exactamente sobreponíveis
ao gato de alguns milhões de anos atrás ou ao gato
de um futuro anterior análogo ao presente
já que podemos considerar praticamente negligenciável
que haja entre os tic-tac dos despertadores a soar
(os quase mesmos na repetição do tempo)
como nos batimentos cardíacos dos corações seus e meus
uma diferença de ritmo tão infinitesimal
que nenhum ouvido mesmo o de Deus se ele existisse
não perceberia
e da qual não se dá conta o cálculo sideral
que arredonda as cifras que nega as diferenças e abole
a ilusão de que cada um é único exclusivo primeiro
último
Mas se tudo isso e todo o etcetera do catálogo das coisas
existentes
se tudo que está aqui na mesma claridade pura
acontecera acontece acontecerá cada elemento
desta manhã de inverno sol erva geada pássaros
gato crianças jornal café avião despertador Loleh
e eu cada um porém tomado pelo sentimento
de que não há mais do que uma única manhã aqui dia fugaz
um único sol para nunca e nunca mais
seu repousar. Mas a gata e o tordo e o traço
branco no céu vivo rasgado pelo avião
e o despertador e o seu coração e o meu se
sentem irremediáveis os exclusivos os sem-iguais
perecíveis evasivos apagáveis de tal forma únicos
no mundo
que talvez já os tenha visto e os voltará a ver
talvez
Mesmo se nós acontecêramos e somos mesmo se outros
nos aconteceram
mesmo se imutáveis e incontáveis são os céus
os invernos e incontável o amor eu nomeio entretanto
aquilo que só acontece uma única vez que acontecerá sempre.

domingo, 31 de julho de 2011

A metáfora da "minestre riscaldate" ou o acúmulo de atraentes vazios.

Então é isso: tudo o que faço é viver de passados, que tomei por inacabados quando na verdade tiveram um fim que não idealizei. Por isso insisto em meias histórias que não enganam intensidade, mas aparecem como um provável presente, com o qual mantenho uma relação de auto-sabotagem, porque de alguma maneira, me nutro deles, como pensamentos sobre sentimentos e não sentimentos reais. Eu não os amo. Só gosto de pensar que poderia.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Três horas bonitas

Quando a Leda falou vagarosamente da Marina na primeira madrugada fria daqueles dias de São Paulo. A Marina, que é infância no prazer mais puro, experimenta a transição na compreensão e na incapacidade habitual de saber dizer não.

O pai da Leda e a Ivone, vestidos com roupões bordados com seus respectivos nomes, na preguiça de sábado, na identificação mútua que existe espalhada pelos cantos mais inesperados.

A Iera discursando pausadamente, sobre sua conversa minutos antes, com a Marina. Ela explicava que achava muito boa a idéia de morar com uma amiga aos 20 poucos, importante tirar boas notas, e finalizou contando que estava com o Artur porque ele era o melhor de todos eles. O Artur olhou rapidamente pra ela, confessando seu amor silencioso.

quarta-feira, 27 de julho de 2011


Projeto para um presente de natal que já foi
Odeio dicionários escritos como pistas de caça-tesouro em círculo. Quando se procura uma palavra, a definiçao dela é um simples sinônimo. Quando procuramos o sinônimo, a definição dele é a tal primeira-palavra opção.
Depois de ver o gmail da Leda todo organizadinho, me bateu um certo transtorno obsessivo compulsivo tecnológico, e resolvi organizar todos os detalhes do meu próprio email. A anita disse que na modernidade ou pós-modernidade, como gostam de dizer os -ólogos e os descolados, podemos definir as pessoas pelos seus emails. Eu nao sei se isso é muito verdade, mas manter todos os meus arquivos digitais e as pequenas doçuras enviadas e recebidas durantes alguns anos, em extrema ordem e limpeza colorida, me trouxe um ar de nova vida e ufa! agora só me falta organizar o armário, os papéis de seis anos de faculdade, a auto-estima e encontrar um amor pra andar de mão dada.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Se eu ficar, conto cada vírgula, esquina, sorriso e lágrima do vento que apareceu por aqui. E você, você tem mais o que ler.

sábado, 16 de julho de 2011

Acabo de ler seu e-mail sem fim. Acho que compreendo a idéia de um acontecimento como atividade essencial para alguns tipos de rompimentos ou desligamentos de sensações que assim, se tornam pretérito perfeito. Como você, acho que estou preparada para ser agora nesse tempo, sem ser excessivamente ansiosa, engolir comida antes da hora, ouvir frases pela metade e gastar todos os dias sendo puramente nostálgica. Me lembro do dia que passei alguns bons minutos dentro daquela cozinha que continuava no banheiro, onde de uma eu podia me ver no reflexo do espelho da outra, tentando explicar que não, nostalgia nao era a tradução. Mas sim, é ela mesma. De fato, as prováveis confirmações que precisamos nos são entregues de maneira bem natural. O que não é fluxo natural, é parte de outro grupo. Mas os principais movimentos da vida, religião e amor não o pertencem. Continuaremos isto nos dias que se seguem, frios, como gosto.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Não adianta essa quebra no plano, chegar pelas costas e supor que se interessa, quando não! Não é o seu assunto favorito.
Quando o cara perdeu o equilíbrio e me vi segurando dois copos em meio ao pequeno grupo de gente, dei mil voltas em torno de mim mesma e consegui me entregar novamente a paranóia do falo demais ninguém aguenta. Mas existe a possibilidade do meu corpo ter sido afetado pela ingestão de algum alcool e por meus traços leoninos. Disseram.
Foram diversas combinações (re)feitas no meu pensamento paralelo e eu me senti um pouco surda, as vezes ignorando completamente as informacões sonoras e te procurando nos intervalos entre as pessoas e o poste de luz que fincaram na ladeira.
sim, essas combinacões nao fazem muito sentido assim como a minha história do cara de voz desafinada que tinha um desenho de ombro um pouco além, ocupando a minha zona de conforto e se movimentando sem parar. Existem truques para a ultilização dos espaços. E existem uns outros que estabeleci como essenciais, para ser, com você. Um dia te conto.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

É possível que eu tenha desistido de você, depois de ter feito uma lista clara na minha cabeça nessa ultima manhã onde quase perdi o ponto. Ter me dado conta, de puxar a cordinha, e da importância de fazer os prós antes dos contras, me trouxe certa vantagem de tempo, mas os fragmentos de Madame Bovary lamentando o prazer do amor reverso me produzem verdadeira nostalgia amorosa, que se transforma em tentação e quando vejo, lá estou eu, voltando aquele ponto, onde não saio do lugar.
Acho que decidi sentir saudade silenciosa.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Devo voltar aos sonhos. Tenho medo quando eles parecem previsões.
A menina do meu trabalho disse que todas as vezes em que ela sonhou com dentes, algum familiar não muito próximo morreu. Assim, certeiro. Eu não gosto muito de acreditar nessas verdades que estabelecem para interpretações, porque por exemplo: minha irmã é dentista e está propícia a sonhar muito mais vezes com dentes do que todos nós (acredito que não existem dentistas lendo este blog).
Mas dessa vez, no próprio sonho, eu ouvia o que ele dizia enquanto arrumava as coisas dispostas na cozinha americana, e nesse enquanto, sentia aquele discurso como uma introdução a notícia principal. Como contornos. Sem nem sequer receber as tais palavras, me desdobrei em monstro e o ataquei! Mas quando acordei pensei nesse sonho, como uma certa comunicação, porque ele me sugeriu uma espécie de gosto, vindo da atitude mais certa: deixar partir.

domingo, 3 de julho de 2011

Na nova experiência do clube do livro, arremessamos o formal fantástico Saramago pela janela: chega de redigir documentos onde pessoas que cortam a cabeça nao morrem!
Intermitências feitas com Angelica Houston, pornochanchada particular e 8 garrafas de vinhos italianos. Morte ao bukowski, uquelele e a casa dos sonhos na pedra.
Nao ha prazer maior que a oportunidade de ser, escondido. De um lado, o instinto criativo de Marky Ramone e seu cabelo armado pela umidade. Do outro, a pintura como coisa mental. Os raciocínios prévios sobre o meio que expande, desarranja, influencia e promove experiências de desconforto e assídua catarse. Pra quem com livros se ganha tempo, ali, era o dia eterno.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

As vezes eu fico brava com alguém porque parece que só quero ficar brava. Vejo aquela ação descontrolada do aumento da voz e decepção demonstrada, seguida de uma frieza redonda e muito, muito imediata. Não olho, nem sequer cogito, ao mesmo tempo em que estou num raciocínio claro que aquilo nem era tão grave assim. Era só dizer: tudo bem.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Acho que passou. Mas continuo à bordo do:
Quem nao tem medo de não amar também não tem medo de altura.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

De repente fiquei surda de um ouvido. Estava tagarelando no jardim do MAM em uma tarde em que pretendi ser esquecida por todas as pessoas que me conhecem e as que tambem não conhecem. Ninguém nos procurou. Eu sempre suspeitei que cedo ou tarde isso aconteceria. O esquecimento, não a surdez. Mas de alguma maneira os entendi como movimentos muito próximos, paralelos.
É tão estranho sentir o som entrando por um só lado do corpo, não escutar bem o mundo, e por isso, ver que sua relação com ele mudou. Porque aquela paisagem sonora de barthes baixou algum tom, todos parecem mais distantes, e uma mesma coisa toma sempre o primeiro lugar na minha concentração. Parecem camadas de informações cotidianas que se permeiam e se permitem, e lá em cima, esta ele, o som mal absorvido.
Quando algo diferente acontece no nosso corpo, realmente diferente, primeiro vem a reação verbal: isso nunca aconteceu comigo! Depois uma sequencia de tentativas óbvias de compreensão do algo diferente.
Até agora não compreendi porque estou surda de um ouvido. Mas já me imaginei assim permanentemente e foi um pouco assustador. Também não compreendi porque desejo estar esquecida, e porque isso automaticamente me vem a cabeça como uma possível mudança de maneiras, personalidade, preguiça e desistência dos múltiplos laços afetivos.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Na minha cabeça, Brasília
é espaçada, com grandes intervalos entre as construções, onde o som se desampara porque não existem grandes paredes, só corredores e campos abertos.
Poucas pessoas vivem ali, quando estão em grupo, grupos pequenos, se não, elas quase não se encontram, porque também são espalhadas e se comunicam em frases curtas se dando ao luxo de serem largas. Brasília é quase sem saturação, e o chão é negro de asfalto contrastando com o céu que é praticamente sem nuvens. Sempre acho que em Brasília venta muito, ainda que eu nunca tenha estado lá, só imagino você de pele branca, cabelo ainda mais, com a blusa querendo transpassar o corpo nessas ruas que caberiam muitos mais. Mas você, vocês, aguardam.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Achei engraçado quando a bel disse que não tinha fotos de amigos nas paredes do quarto porque não gostava que eles a vissem pelada ou dormindo. Engraçado, porque durante muito tempo mantive uma parede coberta delas e gostava justamente de deitar na cama e olhar durante horas para todas as pessoas que eu podia ver todo dia, ou quase todo dia, vez em quando ou quase nunca. Eu as vezes perdia a hora, o fio do pensamento, esquecia os compromissos olhando as fotos em sequencia e me lembrando do que tinha acontecido naquele dado dia. Tê-las na parede me pareceu tão importante por um tempo, que quando pessoas foram embora, porque simplesmente nao pertenciam mais ao espaço que tínhamos em comum, eu tive dificuldades em retirar as fotos. Pensava que se eu as tirasse,estaria definitivamente compreendendo partidas.
Pode parecer bobo, mas tive a mesma sensação quando sai do facebook, porque o transformei numa caixa de memória repleta de fotos, idéias, trocas de afeto virtuais e afins. Achei engraçado então, como nos apegamos a símbolos que representam o discurso, o sentimento, as ações específicas. Deixá-los partir é tão doloroso quanto ver os corpos partirem. Não que isso sirva de fato para as redes sociais, mas é só uma sensação próxima da que tive ao desativar minha conta. Mas com os minutos acumulados sempre prováveis, me acostumei, como sempre nos acostumamos.

terça-feira, 7 de junho de 2011



If I were blond
Na noite passada tive um sonho assustador onde um cara meio punk meio caveira costurava meus dois seios com um caco de vidro. Eu sentia muita dor mas não conseguia me desvencilhar. Tenho tido pesadelos com muito mais frequência agora, e sempre tento compreender a conexão me considerando o tal "rascunho de sonhos", uma mistura de fatos reproduzidos por signos não muito claros no meu subconsciente, extraídos de situaçoes e pessoas da minha vida cotidiana. Sempre penso que minha fome por sonhos poderia ser esclarecida em teorias psicanalíticas, mas a verdade é que tenho preguiça de torná-los parte de uma compreensão geral, e prefiro sempre mante-los nesse tipo de análise íntima.
Ando carregando uma vontade de organiza-los em um livro não monótono (claro, na minha cabeça eu sempre escreveria livros não monótonos), que editariam meus diários de sonhos e poderiam ficar entre uma possibilidade mais clara de (re)visitação e um trabalho de arte.
Mas a cada dia da semana, eu imagino uma nova forma de livro, não os continuo, e me atenho a prática involuntária de sonhar.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Hoje o médico disse que meu pai tem sopro no coração

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Este é um exercicio de compreender ausências nos corpos bem próximos, o mais próximo possível.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

No sábado, cartografias flutuantes bem espaçadas no fundo branco. Anterior, eu andava pra lá e pra cá pensando em como me virar sem um celular em 2011. Ele me empunhou um pequeno livro de Manoel de Barros, um desses que podem marcar um fim, já que tudo deverá terminar em um livro. Abri numa página qualquer, visualizei um trecho dizendo que ele era rascunho de sonho e fechei para apalpar o outro objeto: cardápio. Fizemos uma curta caminhada pelo estreito bairro da Gávea e nos organizamos em um mesa que cortava o bar em dois lados de maneira que o som era retido pelas pessoas laterais à mim, e eu não conseguia participar das conversas.
Pescava palavras, intuía continuidades e assim fui por quase 2 horas, hesitando em fazer perguntas aos tais curadores que poderiam muito bem ser nossos amigos de copo ou colegas de faculdade. Passei então a observar a forma de organização dos móveis, dos quadros na parede, dos copos sobre a mesa, e vez ou outra fingia uma atenção ao campeonato francês de futebol. O importante a ser dito é que estou me relacionando melhor com as construções estáticas do que com pessoas.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Seria loucura tentar reproduzir esta foto como uma possível instalação onde eu me sentiria retornando. Ontem ele me disse que da casa dele até a minha, são 2 horas.
E tudo que pensei em responder foi sobre a pena, a não possibilidade de fazer o percurso contrário e marcar meus passos. Se eles teriam o mesmo ritmo, ou se chegaria mais rápido porque sim, eu tinha mais senso de direção que ele. Talvez eu tenha mais intimidade com mapas. E posso escolher me gabar sobre isso, já que os dias foram declinando após a celebração tipo cocaína. Eles passam pelos cantos e no espaço que me sobrou evitando beiradas, estou girando pra ver se acerto a loteria, o alvo, ou o jogo do bicho.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Tem os dias em que detesto o barulho do telefone, do aspirador de pó, e das vozes das pessoas. Me irrito de maneira inacreditável, e sinto falta da minha vida solitária e incrivelmente espaçosa, onde eu podia pensar sobre tudo. Tem os dias em que duvido muito das pessoas e crio discursos prováveis na minha cabeça. Depois os apago, já que dizer tudo o que eu acho não mudaria muita coisa. São esses os dias em que não me esforço a favor das convenções da boa política da vida, digo que estou me lixando, e não me preocupo com os afetos. Seleciono pessoas nos dedos; estas são as que não me cobram voz, porque podemos existir silenciosamente uma ao lado da outra.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

por segundos apos ter visto a foto que ela me enviou eu pensei que pudesse estar mais perto deles dois e que a vida ainda era aquela suspensão estranha que qualquer momento era indizivel, mas não, o calor essa cor toda daqui e as medidas de tempo no corpo unha cabelo pele me disseram que não. Nao estou.

domingo, 10 de abril de 2011

Eu entendo que permanecer numa repetida nostalgia pode ser um sentido contrario a qualquer continuidade que eu deveria dar a minha vida. Porém, como conclui que nada do aconteceu nesse corte no tempo que me foi dado para existir, deve ser superado, vou continuar dizendo que me falta ar quando escuto Paris na frase, como ja sentia gradualmente quando percebi que o proximo vinha chegando, esse exato presente em que escrevo.
Nao é o Rio de Janeiro que nao é, ele é. Assim como todas os meus pequenos pedaços que existem nele. Porém, a cidade de Paris se misturou a mim. O cheiro do meu quarto, o desenho das ruas, o vento e o pequeno volume das vozes, tudo, pertence ao meu corpo, porque foram coisas possiveis. Este corpo parece por vezes suspenso tentanto compreender um novo espaço. Num mesmo instante em que simplesmente só o re-conhece, porque foi ele e nele todo o tempo em que existiu. Estou, estamos, tentando organizar esta nova composiçao determinada, enquanto supomos um novo encontro.