sábado, 28 de abril de 2012

A minha atividade de sábado preferida: vagar pelos cômodos da casa, pensar pelo cômodos, começar uma atividade e continuar em outra, não fazer absolutamente nada e não ascender nenhuma das luzes. Observar a luz natural desmanchando sobre cada recorte. Existir por ali enquanto o escuro preenche a casa inteira. Continuar vagando, dessa vez tateando o já conhecido. Eu e a casa. Em silêncio.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Acho que estou construindo amor.

domingo, 15 de abril de 2012

Na minha caixa de email, ela toda ressentida questiona a ausência dele devido ao rompimento da amizade e o motivo (provavelmente inexistente) desse sumiço todo. Não sei explicar, até porque vivemos durante algum tempo em países diferentes e mesmo quando vivíamos aqui, ele andando no metrô sem encostar as mãos nos ferros de equilíbrio gordurosos, eu não conseguia desvendar quando ele gostava, quando não, era tudo a mesma coisa. Tento ser sucinta, argumentando que as relações são assim mesmo: mudam às vezes para melhor, às vezes para pior e lamentamos alguns percursos e ficamos guardados em casa se perguntando porque motivo idiota alguém deixou de nos falar algo, para sempre, algo. Depois penso que é mais que natural que ele fiquei do lado do melhor amigo e te odeie porque você mudou o seu corte de cabelo, porque na verdade, ele não te odeia por nada, mas ainda assim é o melhor amigo do outro. As pessoas escolhem lados por convenções simples, porque é mais fácil não ter que lidar, porque não terão de dar explicações justas aos melhores amigos, e sim, no mínimo, aos conhecidos. E assim, não o farão. Eu acho que só vale a pena tentar desvendar os motivos pelos quais as pessoas nos falam, e não porque o deixam de fazer. É mais doce, e mais divertido.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Vou desvendar toda a discografia dos Beatles, decorar todas as letras, conhecer todas as gravações e todos os arranjos.
Vou aprender créole e algum instrumento de sopro. Não vou mais trocar o r pelo s, e vou parar de fingir que as empanadas de carne moída são alho poró. Vou criar a poção mágica que encurte as distâncias, acelere o tempo, prolongue o instante, tudo isso, só quando a gente precisar. E quando o sol estiver pra nascer, a fome se manifestar, as pessoas entrarem em contato, vou cantar a música do Vinícius de Moraes "podem me chamar e me pedir e me rogar" e fingir que o mundo não existe, porque é isso tudo que a gente faz quando se apaixona.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Eu andava pela Avenida Paulista num inverno tardio de novembro e minha falta de equilíbrio acabou me trazendo sorte. Não o vi, apesar de seu tamanho nada discreto, e acabamos nos esbarrando em frente aquele prédio que estava coberto pela metade por um tipo incomum de papel de parede. Depois de nos olharmos, analisamos em silêncio o papel de parede. Eu disse primeiro: resolveram mudar o cinza por esse papel de parede geométrico. Como será que essa decisão foi feita? Ele respondeu: talvez tenham feito uma votação da reunião de condomínio depois que alguém trouxe a sugestão. Aquele papel de parede iria instaurar um novo padrão arquitetônico (ou decorativo) para a Avenida que estava repleta de prédios lisos em tons de cinza e alguns vidros espelhados.
Concordamos na suposição e caminhamos em direção ao único lugar aberto para comer àquela hora. Quando fiz meu pedido, batata recheada com strogonoff de carne, ele olhou um pouco decepcionado e disse que tinha que encontrar um amigo.