segunda-feira, 20 de junho de 2011

De repente fiquei surda de um ouvido. Estava tagarelando no jardim do MAM em uma tarde em que pretendi ser esquecida por todas as pessoas que me conhecem e as que tambem não conhecem. Ninguém nos procurou. Eu sempre suspeitei que cedo ou tarde isso aconteceria. O esquecimento, não a surdez. Mas de alguma maneira os entendi como movimentos muito próximos, paralelos.
É tão estranho sentir o som entrando por um só lado do corpo, não escutar bem o mundo, e por isso, ver que sua relação com ele mudou. Porque aquela paisagem sonora de barthes baixou algum tom, todos parecem mais distantes, e uma mesma coisa toma sempre o primeiro lugar na minha concentração. Parecem camadas de informações cotidianas que se permeiam e se permitem, e lá em cima, esta ele, o som mal absorvido.
Quando algo diferente acontece no nosso corpo, realmente diferente, primeiro vem a reação verbal: isso nunca aconteceu comigo! Depois uma sequencia de tentativas óbvias de compreensão do algo diferente.
Até agora não compreendi porque estou surda de um ouvido. Mas já me imaginei assim permanentemente e foi um pouco assustador. Também não compreendi porque desejo estar esquecida, e porque isso automaticamente me vem a cabeça como uma possível mudança de maneiras, personalidade, preguiça e desistência dos múltiplos laços afetivos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário