sábado, 13 de fevereiro de 2010

Com neve cobrindo suas bases, as árvores daqui, do quarto andar, reproduzem uma beleza especial. Cheguei adiantada, um rapaz de boina me ajudou a encontrar a sala, pediu meu telefone em seguida, fiquei envergonhada, mas minhas bochechas ainda estão geladas.

Essa é a primeira semana de aula. Venho no metrô todos os dias contando o número de estações e perdendo o numero de batidas por minuto do coração, temendo todas as coisas novas que podem aparecer pelo caminho. Ao mesmo tempo, anseio por elas.
Não tive muita chance de grandes contatos verbais. Só com uma chinesinha simpática que coinscidentemente escolheu todas as mesmas matérias que eu. Trocamos sorrisos de cumprimento a cada nova sala.
Sento na primeira fileira, meu desgaste pra compreender acontece em dobro, qualquer som que nao seja a voz do professor cria uma quebra no meu raciocinio: preciso escutar aquilo, e só aquilo.
Comecei com "arte e vida", que me pareceu um nome um tanto vago, mas que tinha grandes chances de ser algo relacionado aos fatos cotidianos como tema central nas abordagens artísticas. Não foi muito isso. Um professor la perto dos 60, café na mão, lentidao no passo, falou sobre diversos assuntos, e concluindo? uma discussao sobre a tridimensionalidade na arte contemporanea, renovaçao da analise critica e historica, e o ensino do olhar. Interessante, mas não entreguei meu nome num papel.
Na quarta-feira, quase uma multidão completava a sala pra ouvir Mallarmé: o livro- objeto, livro de artista, livro-fetiche. Com o nome atraente, a aula me pareceu dificil na mesma dose. Uma Análise das tres primeiras paginas de "poèmes" foi feita por um professor com menos de 40, blazer e calça de cortes impecáveis, discreto, gay, com dentes feios e simpatia no olhar. Se entender o pouco do que li da poesia de Mallarmé,em português, ja era dificil, imagine em francês. Para ler alto, um rapaz de voz atraente se habilitou. Eu levantaria o dedo, se não fosse a certeza de tropeçar muitas vezes na pronúncia. Um passo de cada vez. Silêncios, Silêncios, intercalados: os desesperos. Me arrisco nos escritos franceses, nos dele, e nos meus, que devo começar a qualquer instante. Quantas palavras podem existir no mundo? Aceito que nunca vou dominar qualquer lingua. Até essa. Língua nem é de se dominar.


Estou ha 21 dias em Paris.

3 comentários:

  1. Bia, muitas sensações boas ao ler seu texto.

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  2. Língua nem é de se dominar. amei, amei. (:

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  3. tão subjetivamente incisivo o seu jeito de escrever Bia, que por vezes parece q dá pra sentir vc ofegante como q recuperando um fôlego perdido num mergulho no novo.

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